Bioma Pampa: Gestora da APA encaminha retificação de matéria publicada por jornalista da Zero Hora
Foto: Vegetação típica do pampa: campo e mata ciliar
A notícia sobre o "Desmatamento" do Pampa, publicada na Seção [GERAL] da Zero Hora desta sexta-feira (23) causou polêmica na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul. A matéria, intitulada "Bioma Ameaçado: Pampa já perdeu 54% de sua área original", comentava o estudo divulgado no dia anterior pela Ministra do Meio Ambiente que apresenta dados sobre a situação dos biomas brasileiros, porém dava o desmatamento e a pecuária como causas desta diminuição de área pampeana.
Durante a manhã de hoje diversas rádios da Fronteira Oeste replicaram a notícia, manifestando a indignação dos ouvintes e radialistas, em especial os das cidades citadas na reportagem como "maiores desmatadores do Pampa". Em reação à informação creditada por Zero Hora ao Ministério do Meio Ambiente, "- Onde estão as áreas dematadas? Nós não mexemos em mato!", bem como "- De onde o MMA tirou tanto mato no Pampa?", foram as constatações mais ouvidas pela fronteira nesta manhã gelada.
Diante da polêmica relacionada ao Pampa, a gestora da Área de Proteção Ambiental do Ibirapuitã, Analista Ambiental Eridiane Lopes da Silva, encaminhou ainda durante a manhã um e-mail contendo retificações às informações publicadas pelo jornalista Rodrigo Orengo. "- Encaminhei a correção das informações não só ao jornalista que as publicou, mas também às rádios e jornais da Fronteira Oeste e aos sindicatos rurais, onde a polêmica estava pegando fogo." - relata Eridiane. "- O mais importante é ajudarmos os meios de comunicação a transmitirem as informações corretas à população. Até o momento já recebemos o retorno de alguns radialistas nos informando que veicularam as informações certas nos noticiários do meio-dia", complementa.
Leia abaixo o e-mail com as informações corretas sobre o estudo divulgado pelo Ministério do Meio Ambiente:
"Prezado Sr. Rodrigo,
a matéria "Bioma Ameaçado: Pampa já perdeu 54% de sua área original", publicada em 23/07/2010 na página 39 da Seção [GERAL] da Zero Hora, apresentam algumas informações distorcidas que induzem os leitores a interpretações equivocadas sobre este já tão pouco conhecido bioma. Seguem informações corretas:
[1] O estudo, a que se refere a matéria, informa que o Pampa já perdeu mais da metade (54%) de sua área com vegetação original. A vegetação original do Pampa é composta por campos, vegetação de banhado, matas ciliares e manchas florestais nativas, onde a maior parte da vegetação corresponde aos CAMPOS. Portanto o responsável pelo sumiço da vegetação do Pampa NÃO É O DESMATAMENTO, e sim a conversão de áreas de vegetação nativa (campos, vegetação de banhado, matas ciliares e manchas florestais nativas), seja para instalação de obras de infra-estrutura (edificações, estradas, barragens, etc), seja para instalação de plantações comerciais (soja, milho, arroz, silvicultura, pastagem de braquiária, etc).
[2] As cidades apresentadas na reportagem (Alegrete, Dom pedrito, Encruzilhada...) perderam ÁREA DE VEGETAÇÃO ORIGINAL DO PAMPA, sendo esta vegetação nativa (que foi perdida) composta principalmente por áreas de campo nativo, e não obrigatoriamente constituindo DESMATAMENTO.
[3] A pecuária, quando desenvolvida de forma extensiva, sobre campo nativo e com ajuste de carga animal, tem se mostrado uma ALIADA À CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE DO PAMPA. As ameaças ao Pampa relacionadas à pecuária são relativas ao manejo adotado: implantação de pastagens com espécies não nativas do Pampa (o que corresponde a perda de biodiversidade por conversão de áreas de vegetação nativa em vegetação exótica), excesso de carga animal (muitos animais pisoteando e pastando em excesso na mesma área, impedindo a regeneração das plantas de campo) e permissão para que o Capim-annoni entre em novas áreas ou aumente na propriedade (perda de biodiversidade por invasão biológica).
[4] A diminuição da PERDA DA VEGETAÇÃO ORIGINAL DO PAMPA não será obtida por ações de fiscalização e combate ao DESMATAMENTO, uma vez que a maior parte desta vegetação original perdida é vegetação campestre (herbáceas, arbustos e arvoretas nativas associadas ao ecossistema CAMPO).
[5] A PERDA DA BIODIVERSIDADE ORIGINAL DO PAMPA (plantas e bichos nativos) somente será diminuída se passarmos a adotar sistemas de manejo e produção compatíveis com as características ecossistêmicas do Pampa, os quais devem respeitar a continuidade de existência das plantas e bichos nativos desta região do país.
Em anexo encaminho para seu conhecimento contextualização sobre a Área de Proteção Ambiental do Ibirapuitã, única área protegida federal totalmente inserida no Bioma Pampa.
Atenciosamente,
Engª Agrª Eridiane Lopes da Silva
Analista Ambiental
Gestora da Área de Proteção Ambiental do Ibirapuitã
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBio
Ministério do Meio Ambiente - MMA"
Fonte: Escritório da APA do Ibirapuitã/ICMBio/MMA
1 comentários:
Oi Eridiane,
O texto está muito bom! Espero que os meios de comunicação o tenham divulgado sem mais distorções...
Tatiana Kuplich
CRS/INPE
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