15 de setembro de 2010
Sukhdev: é preciso acabar com a invisibilidade da natureza
por Thays Prado, Planeta Sustentável
O economista indiano, Pavan Sukhdev, temporariamente licenciado de sua função no Deutsche Bank, e principal autor do estudo TEEB - A Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade, participou de dois eventos, em São Paulo, nesta semana. Em encontro realizado, na segunda-feira, pela Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, em parceria com o PNUMA, a CETESB e a ONG Vitae Civilis, ele abordou o tema da economia verde. Nesta terça-feira, Sukhdev apresentou um dos capítulos do TEEB, voltado para os negócios, em versão em português, na CNI - Confederação Nacional da Indústria.
Ele ressaltou que, apesar de os ecossistemas proverem uma série de serviços ambientais, como a disponibilidade de água limpa e ar puro, a produção de comida e combustíveis e a renovação do solo, para citar apenas alguns, em nosso modelo econômico, esse capital natural é gratuito e, por isso mesmo, desvalorizado e, consequentemente, destruído. "As abelhas não cobram uma fatura mensal pela polinização, nem as árvores por purificarem o ar", brinca.
Por isso, "o TEEB quer mostrar o problema da invisibilidade da natureza e apresentar soluções sobre como resolver essa questão, como recuperar os danos já causados aos ecossistemas e como analisar o que cada setor pode fazer: consumidores, empresas, governos locais, nacionais e acordos internacionais", diz o economista.
Sukhdev explica que, atualmente, o preço dos bens e serviços não incluem o que ele chama de "terceira parte", ou seja, os impactos gerados sobre os ecossistemas. Segundo os cálculos do estudo, enquanto a crise financeira representou uma perda de 2,4 trilhões de dólares, a perda de biodiversidade está estimada entre 2 e 4 trilhões de dólares. No entanto, enquanto 53% dos empresários na América Latina estão preocupados com a degradação da biodiversidade - provavelmente, por terem mais negócios ligados diretamente à exploração dos recursos naturais -, na Europa Ocidental, apenas 15% dizem o mesmo.
Quando se analisaram os relatórios anuais e os relatórios de sustentabilidade das cem maiores empresas do mundo, 82% delas não mencionam a preocupação com a biodiversidade no primeiro caso e 42%, no segundo. Isso significa que a importância da preservação ambiental ainda não se disseminou por todas as áreas das companhias.
Por outro lado, a preservação dos ecossistemas, das espécies e da variabilidade genética pode ser sinônimo de oportunidade econômica e social. Os investimentos em conservação e recuperação natural devem gerar um retorno de 20 a 70 vezes maior. E isso pode ser feito por meio de decisões políticas, de mecanismos internacionais como o REDD+ - Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal, e dos instrumentos de mercado. Já existem iniciativas significativas nesse sentido. O próprio relatório levantou 55 exemplos de sucesso pelo mundo, 5 deles no Brasil.
Para se ter uma ideia do valor que essa transformação no modelo econômico poderia gerar, veja quanto o TEEB estima que os seguintes setores devem crescer de 2008 até 2020:
- produtos agrícolas certificados: de $40 bilhões para $210 bilhões;
- produtos florestais certificados: $5 bilhões para $15 bilhões;
- mecanismos como MDL e REDD+: $0,5 milhões para $5 bilhões;
- compensação de carbono em mercado voluntário: $21 milhões em 2006 para $5 bilhões;
- pagamentos por serviços ecossistêmicos mediados pelo governo: $3 bilhões para $7 bilhões;
- pagamento voluntário para gestão de bacias hidrográficas: $5 milhões para $2 bilhões;
- compensação de biodiversidade em mercados regulados: $3,4 bilhões para $10 bilhões;
- compensações voluntárias de biodiversidade: $17 milhões para $100 milhões;
- acordos de bioprospecção: $30 milhões para $100 milhões;
- fundos fideicomissos de terras privados, servidões e outros incentivos fiscais para a conservação: $8 bilhões somente nos EUA para $20 bilhões.
O economista espera que a partir da 10ª Conferência das Partes da Convenção de Diversidade Biológica, que acontece em outubro, em Nagoya, Japão, mais ações comecem a ser postas em prática em todo o mundo.
Esse novo modelo econômico vem sendo chamado de "economia verde". Nas palavras de Pavan, seria aquela "capaz de gerar bem-estar, trazer equidade e reduzir as inseguranças, sem criar riscos ou comprometer as gerações futuras". Isso só será possível com o crescimento dos investimentos públicos e privados nos setores sustentáveis, o aumento da quantidade e da qualidade de empregos verdes e da participação dos setores verdes no PIB. Ao mesmo tempo, é preciso reduzir as emissões e a poluição e diminuir o consumo desnecessário e a produção de resíduos.
Pavan acredita que a economia verde é também uma solução para a criação de empregos decentes e para a redução da pobreza. De acordo com um estudo da Blue Green Alliance, uma organização americana que reúne sindicatos de trabalhadores e organizações ambientais, enquanto o setor de petróleo e gás no mundo emprega 2,2 milhões de pessoas, as energias renováveis absorvem 2,3 milhões de trabalhadores e esse número pode chegar a cerca de 20 milhões nos próximos anos.
Ele ainda ressaltou que, enquanto a biodiversidade pode não representar uma parcela tão significativa do PIB total de alguns países como Brasil (10%), Índia (16%) e Indonésia (21%), se somarmos a renda dos pobres dessas nações, a dependência econômica direta dos recursos naturais é muito maior. Considerando agricultores pobres e comunidades tradicionais da floresta, a biodiversidade representa 47% do que Pavan chama de "PIB dos pobres" na Índia, 75% na Indonésia e 89% no Brasil. "Redução da pobreza e preservação da biodiversidade estão diretamente relacionadas", diz.
Segundo Pavan Sukhdev, o Brasil - que possui entre 20% e 25% de toda a biodiversidade do planeta - é uma superpotência em termos de ecossistemas, espécies e material genético e deve não apenas reconhecer isso, como ser protagonista de investimentos para conservar e recuperar suas riquezas naturais. Ele lembrou a importância da Amazônia - que lança cerca de 20 bilhões de toneladas de vapor d'água na atmosfera, gerando chuvas não apenas para o Sudeste brasileiro, como também para Argentina, Uruguai e Paraguai - como uma das oportunidades para se repensar a economia das florestas e o pagamento por serviços ambientais.
http://www.pnuma.org.br/noticias_detalhar.php?id_noticias=492
É preciso acabar com a invisibilidade da natureza
Postado por APA Ibirapuitã on quarta-feira, 15 de setembro de 2010
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