11/03/2011
Especialistas em segurança alimentar na Europa acham que Brasil deveria evitar o desperdício de alimentos e a monocultura, e destinar os biocombustíveis para o mercado interno.
O Brasil deve ter cuidado com a produção em larga escala de etanol e de monoculturas como a soja, se pretende garantir a segurança alimentar de sua população. A opinião é do vice-presidente do Conselho Mundial de Agricultura (IAASTD), o suíço Hans Herren. Para ele, esses produtos, apesar de serem uma "maravilha do capital, não ajudam o mundo na questão da segurança alimentar".
Herren participou do encontro sobre segurança alimentar no mundo, promovido pelo Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD), em Bonn. O evento contou com a participação de quase 50 especialistas do setor em países em desenvolvimento, incluindo quatro brasileiros.
O especialista suíço disse que é perigoso trabalhar com a agricultura visando obter grandes resultados financeiros a curto prazo. Herren defende que esta idéia pode "inviabilizar a diversificação da produção de alimentos". Para exemplificar, ele citou não só o caso dos biocombustíveis, mas também os esforços latino-americanos a fim de abastecer o mercado chinês de soja.
Produção em larga escala
As exportações brasileiras de commodities agrícolas para a China quase quintuplicaram entre 2003 e 2008, saltando de 1,3 bilhão de dólares para 5,3 bilhões de dólares, conforme dados do Conselho Empresarial Brasil-China.
Segundo o especialista da IAASTD, há atualmente "uma tendência preocupante de produção desse produto na região". Os latino-americanos estariam investindo cada vez mais em culturas de larga escala, o que causaria "empobrecimento do solo, redução do número de pessoas envolvidas no cultivo e grandes gastos de energia", explica.
Para Herren, o ideal seria que a agricultura de larga escala se tornasse humana e sustentável, sem a exclusão das pessoas do processo de produção. "Cuidados ambientais não podem ficar de fora, pois a agricultura é parte do meio ambiente", opina.
Biocombustíveis e subsídios
O responsável pela Divisão de Desenvolvimento Agrícola do Ministério alemão de Cooperação Econômica e Desenvolvimento, Christoph Kohlmeyer, acha que o Brasil, como todos os países exportadores de alimentos em potencial, "deveria tentar se concentrar em atender o seu próprio mercado".
Segundo o especialista, que responde também pelos temas ligados à segurança alimentar global no ministério alemão, produzir combustível em áreas onde é necessária a produção de comida é uma ação crítica. "Os biocombustíveis deveriam atender o mercado interno dos países. A exportação não é sustentável", defende Kohlmeyer.
Com relação ao comércio internacional de produtos alimentícios, Kohlmeyer é contra os subsídios concedidos pelos governos na política de abertura dos mercados. "Isso tem atrapalhado bastante o comércio dos alimentos no mundo", opina. Ele acredita que é necessário rever as regras do mercado internacional para que se implemente "uma nova política de abertura dos mercados".
Estratégia de segurança
Herren destaca que uma boa estratégia para a segurança alimentar de países pobres e emergentes seria diversificar a produção e agregar valor aos produtos. Na produção de frutas, por exemplo, é importante não somente fazer sucos, mas também processar a fruta criando outros bens. "Assim, você pode exportar produtos finalizados", sugere o especialista.
Conforme a pesquisadora da Universidade Federal do Ceará Maria Teresa Salles Trevisan, segurança alimentar também significa conter o desperdício. "Toneladas da polpa de caju são jogadas fora, porque o mercado externo quer apenas a castanha", explica Trevisan, que trabalha no Grupo de Biotransformações e Produtos Naturais do Ceará.
Durante o encontro em Bonn, ela afirmou que o grande papel que o Brasil pode desempenhar é atingir "perda zero" na produção. Conforme a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o desperdício chega a 64% do que se planta no país.
Trevisan explica que a "precária infraestrutura de transporte e o armazenamento dos alimentos" contribuem para o problema. Para a FAO, outros fatores que agravam o desperdício são a falta de reciclagem e o fato de o consumidor comprar mais do que precisa.
Autor: Marcio PessôaRevisão: Augusto Valente
DEUTSCHE WELLE
Brasil deve ter cautela com produção de etanol, adverte especialista
Produção de soja em larga escala do Brasil é criticada
Produção de soja em larga escala do Brasil é criticada
Especialistas em segurança alimentar na Europa acham que Brasil deveria evitar o desperdício de alimentos e a monocultura, e destinar os biocombustíveis para o mercado interno.
O Brasil deve ter cuidado com a produção em larga escala de etanol e de monoculturas como a soja, se pretende garantir a segurança alimentar de sua população. A opinião é do vice-presidente do Conselho Mundial de Agricultura (IAASTD), o suíço Hans Herren. Para ele, esses produtos, apesar de serem uma "maravilha do capital, não ajudam o mundo na questão da segurança alimentar".
Herren participou do encontro sobre segurança alimentar no mundo, promovido pelo Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD), em Bonn. O evento contou com a participação de quase 50 especialistas do setor em países em desenvolvimento, incluindo quatro brasileiros.
O especialista suíço disse que é perigoso trabalhar com a agricultura visando obter grandes resultados financeiros a curto prazo. Herren defende que esta idéia pode "inviabilizar a diversificação da produção de alimentos". Para exemplificar, ele citou não só o caso dos biocombustíveis, mas também os esforços latino-americanos a fim de abastecer o mercado chinês de soja.
Produção em larga escala
As exportações brasileiras de commodities agrícolas para a China quase quintuplicaram entre 2003 e 2008, saltando de 1,3 bilhão de dólares para 5,3 bilhões de dólares, conforme dados do Conselho Empresarial Brasil-China.
Segundo o especialista da IAASTD, há atualmente "uma tendência preocupante de produção desse produto na região". Os latino-americanos estariam investindo cada vez mais em culturas de larga escala, o que causaria "empobrecimento do solo, redução do número de pessoas envolvidas no cultivo e grandes gastos de energia", explica.
Para Herren, o ideal seria que a agricultura de larga escala se tornasse humana e sustentável, sem a exclusão das pessoas do processo de produção. "Cuidados ambientais não podem ficar de fora, pois a agricultura é parte do meio ambiente", opina.
Biocombustíveis e subsídios
O responsável pela Divisão de Desenvolvimento Agrícola do Ministério alemão de Cooperação Econômica e Desenvolvimento, Christoph Kohlmeyer, acha que o Brasil, como todos os países exportadores de alimentos em potencial, "deveria tentar se concentrar em atender o seu próprio mercado".
Segundo o especialista, que responde também pelos temas ligados à segurança alimentar global no ministério alemão, produzir combustível em áreas onde é necessária a produção de comida é uma ação crítica. "Os biocombustíveis deveriam atender o mercado interno dos países. A exportação não é sustentável", defende Kohlmeyer.
Com relação ao comércio internacional de produtos alimentícios, Kohlmeyer é contra os subsídios concedidos pelos governos na política de abertura dos mercados. "Isso tem atrapalhado bastante o comércio dos alimentos no mundo", opina. Ele acredita que é necessário rever as regras do mercado internacional para que se implemente "uma nova política de abertura dos mercados".
Estratégia de segurança
Herren destaca que uma boa estratégia para a segurança alimentar de países pobres e emergentes seria diversificar a produção e agregar valor aos produtos. Na produção de frutas, por exemplo, é importante não somente fazer sucos, mas também processar a fruta criando outros bens. "Assim, você pode exportar produtos finalizados", sugere o especialista.
Conforme a pesquisadora da Universidade Federal do Ceará Maria Teresa Salles Trevisan, segurança alimentar também significa conter o desperdício. "Toneladas da polpa de caju são jogadas fora, porque o mercado externo quer apenas a castanha", explica Trevisan, que trabalha no Grupo de Biotransformações e Produtos Naturais do Ceará.
Durante o encontro em Bonn, ela afirmou que o grande papel que o Brasil pode desempenhar é atingir "perda zero" na produção. Conforme a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o desperdício chega a 64% do que se planta no país.
Trevisan explica que a "precária infraestrutura de transporte e o armazenamento dos alimentos" contribuem para o problema. Para a FAO, outros fatores que agravam o desperdício são a falta de reciclagem e o fato de o consumidor comprar mais do que precisa.
Autor: Marcio PessôaRevisão: Augusto Valente
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